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Podcast Falha (Chumbo Gallery)

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18/12/2021


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28/12/2021

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15/10/2020

 

Público
8 de Janeiro de 2022

Gonçalo Frota


Público: Self-Mistake: bolsas de apoio “com visão artística"


Artes performativas Self-Mistake: bolsas de apoio “com visão artística”
Self-Mistake: bolsas de apoio “com visão artística”

 

Dirigindo-se a um tempo de pesquisa artística e privilegiando projectos de risco e experimentação nas artes performativas, Tânia M. Guerreiro criou as bolsas Self-Mistake, de apoio aos artistas independentes. Em 2021/2022 são 27 os artistas apoiados, entre os quais Ana Libório e Tiago Vieira.
A primeira bolsa Self-Mistake que o autor e actor Tiago Vieira recebeu, para o período 2019/20, patrocinou uma caminhada que planeou entre “um campo de concentração perto de Berlim e a campa de Pina Bausch”. Não se tratava de um gesto artístico em si mesmo, mas antes de uma viagem empreendida como pesquisa pessoal destinada a alimentar possíveis criações futuras. Para alguém que tem desenvolvido uma investigação em torno da II Guerra Mundial, era mais uma peça a juntar aos elementos que foi recolhendo ao longo dos anos. E ainda durante a caminhada, respondendo aos vários estímulos com que se ia cruzando, Tiago escreveu “o equivalente a três espectáculos”. Ou seja, dessa pesquisa acabaram por nascer Devemos Sempre Perdoar os Cobardes, Mas Nunca Ser como Eles (estreado na Rua das Gaivotas 6), Amo-te. Mesmo que Não Compreendas (Sinfonia nº1) (apresentado na Casa do Capitão) e Trummer (espectáculo integrado no seu mestrado e levado à cena no Kvs Theater, Bruxelas).

Tiago Vieira foi um dos primeiros artistas apoiados pelas bolsas Self-Mistake, criadas pela produtora de artes performativas Tânia M. Guerreiro, particulares por se dirigirem especialmente para o período de pesquisa e para criadores com uma prática experimental ou de risco. Ao PÚBLICO, a produtora conta que a iniciativa partiu da “escuta” daquilo que sentiu ser “uma necessidade da parte dos artistas”. “Mas é também uma resposta que vem contrariar algumas falhas dos modelos de apoio às artes”, no que respeita “aos artistas emergentes e àqueles que estão agora no lugar da inovação”. Em termos concretos, significa isto que artistas em arranque de carreira ou com propostas mais arrojadas esbarram, muitas vezes, em critérios de apoio como o “equilíbrio financeiro dos projectos”. “Estes projectos mais independentes têm muitas vezes dificuldade em conseguir esse equilíbrio financeiro através de co-produções ou através de dotações financeiras, o que faz com que sejam sistematicamente excluídos dos apoios”, explica Tânia M. Guerreiro. “É por isso que este projecto é um statement.”
Uma das ferramentas mais eficazes das bolsas Self-Mistake é, no entanto, a forma inventiva como permite contrariar as debilidades de alguns destes artistas nos habituais concursos de apoio aos criadores. Ao atribuir verbas destinadas sobretudo à pesquisa (de valor variável e adaptado às necessidades de cada projecto), as Self-Mistake permitem também que cada um dos escolhidos (para 2021/2022 foram anunciadas, em Dezembro, 27 novas bolsas) alcance ou se aproxime do tal equilíbrio financeiro valorizado pelos concursos. “Há muitos casos em que, sem um patamar de 4 mil euros de receita, é muito difícil candidatarmo-nos”, confirma Ana Libório, outra das artistas apoiadas pelas Self-Mistake. “Portanto, esse investimento que o Self-Mistake faz ao atribuir-nos uma bolsa leva a que tenhamos também a possibilidade de concorrer a outros apoios. Isso permitiu que pudesse ser fiel à minha ideia inicial daquilo que seria o espectáculo [Capturing You / Fictional Politics of Movement] , ter uma equipa de performers e colaboradores que o potenciavam e pagar a essas pessoas. Esta bolsa permite que, enquanto criadores, possamos continuar a ser justos em relação ao nosso projecto artístico – porque muitas vezes temos de modificá-lo por razões de orçamento ou de candidatura a um apoio do Estado.”
Lugar de respiração
Quando Ana Libório se candidatou a uma primeira bolsa Self-Mistake, o seu pensamento estava, no entanto, num ponto anterior à criação de Capturing You. Tinha terminado a Escola Superior de Teatro e Cinema, a subsistência a partir do seu trabalho artístico era ainda uma miragem longínqua e precisava de descobrir o caminho que queria empreender. Foi isso que impulsionou a sua proposta, por encontrar na iniciativa de Tânia M. Guerreiro “um projecto que apoia a falha e o risco”. “Foi um espaço seguro para experimentar e encontrar uma vertente mais autoral enquanto artista, para perceber qual a gramática discursiva que queira seguir individualmente, não ficando dependente das instituições ou daquilo que elas propõem.”


E encontrou ainda na bolsa atribuída pela produtora uma ajuda na resposta a questões tão práticas como a procura de um espaço de ensaios e auxílio na preparação de orçamentação e submissão de uma candidatura. “Muitas vezes, nós artistas, somos super abstractos e navegamos imenso, e a Tânia também nos ajudou a ter um discurso mais objectivo acerca do nosso projecto”, descreve. Porque aquilo que Tânia oferece com as “suas” bolsas não passa pela simples transferência bancária de um montante que possa financiar pesquisas ou criações (sem exigir que culminem em apresentações públicas), assegurando algum apoio suplementar de produção. “Aquilo que faço é estar com cada artista de uma forma bastante diferente, dependendo daquilo de que o projecto mais precisa”, diz a produtora. “Alguns artistas são organizados e dou-lhes alguma consultoria e formação para ficarem mais autónomos [na dimensão mais burocrática e financeira da actividade], noutros casos, por não terem esse perfil, posso ajudar a que trabalhem com outros produtores ou na elaboração das candidaturas.”
As bolsas Self-Mistake – que em 2021/22 apoiam outros artistas como Bernardo Chatillon, Carlota Lagido, Gaya de Medeiros, Joana Castro, Joãozinho da Costa, Maurícia/Neves, Rui Catalão, Sofia Dinger ou Tita Maravilha, entre outros – obedecem a um processo “muito informal”. “Apesar de abrir sempre uma open call”, esclarece Tânia M. Guerreiro, “para poder conhecer novos artistas e novos projectos. Mas tento dar seguimento a alguns dos projectos e, por isso, existem artistas que voltam a ser apoiados, porque em termos de estratégia é importante haver essa continuidade”, complementada “por “alguma renovação com novos nomes”.
Tiago Vieira é um dos exemplos dessa continuidade. No final de Fevereiro, com um financiamento Self-Mistake, partirá para uma nova caminhada, ligando “o sítio onde Rimbaud foi baleado [por Verlaine, no Hotel Liège, em Bruxelas] até à sua casa de infância, em França [Charleville, junto à fronteira belga]”. “Faz parte de um projecto sobre Rimbaud, um dos meus fetiches, e sobre a ideia de elevação espiritual a partir dele, que será o meu espectáculo de 2022.” E cujo alcance está também dependente de um eventual acolhimento da sua candidatura a um apoio pontual nos concursos da DGArtes. “A bolsa é, mais uma vez, para poder ter um espaço de pesquisa e para aprofundar o espectáculo. As ‘bolsas da Tânia’ têm essa vantagem, de servirem mecanismos e pontes para os espectáculos. A mim, servem-se quase como bloco de notas para esquissos e rascunhos, mas até também como lugar de respiração.” Nas palavras do criador, estas são “bolsas com uma visão artística”.
Em média, estima Tânia M. Guerreiro, o valor atribuído em cada bolsa situa-se num intervalo entre 2 mil e 4 mil euros, sendo o bolo total resultante das próprias candidaturas do Self-Mistake a apoios. Na primeira leva de bolsas, respeitantes ao biénio 2019/20, o financiamento foi obtido através dos apoios sustentados da DGArtes, tendo a candidatura sido repescada – e não seleccionada na primeira fase. Isso terá acontecido, na opinião de Tânia M. Guerreiro, “porque o projecto tem as mesmas características debilitantes dos artistas que quer apoiar”. A segunda leva de bolsas resultou das linhas de emergência abertas em resposta à pandemia (do Ministério da Cultura, da Câmara Municipal de Lisboa e do Fundo de Fomento Cultura). Por isso, e apesar de encontrar nas verbas e no entendimento que o Self-Mistake tem encontrado na autarquia lisboeta, a sua continuação está sempre em risco. E porque “não pode estar dependente dos teatros, porque isso seria uma subversão”, uma vez que o objectivo passa por deitar à mão àqueles que costumam estar arredados das programações mais institucionais e lançados no magro circuito independente.
A vertente financeira, no entanto, é apenas a face mais visível de um apoio logístico de bolsas que acodem ainda com parcerias firmadas com espaços de ensaio como o CPBC e o Desvio, em Lisboa, ou o Trust Collective, em ambiente rural. Tudo para garantir que há um espaço para pensar e desenvolver espectáculos sem pressão de datas de estreia e respeitando o tempo de cada um. Com a liberdade de que uma pesquisa não resulte em qualquer espectáculo imediato. Até porque, basta atentar na designação, o Self-Mistake prevê o espaço para o erro e para a conclusão de que o caminho poderá, afinal, ser outro ou estar ainda no início.

 

 

Público
6 de Abril de 2021

Gonçalo Frota


Público: Há um novo programa de apoio à dança e à performance para quem quer fazer e decidir como dá a ver o que faz

 

Há um novo programa de apoio à dança e à performance para quem quer fazer e decidir como dá a ver o que faz
O principal objectivo do Self-Curating é promover a autonomia e a liberdade dos artistas, ao mesmo tempo que contribui para a a criação de um circuito de apresentação alternativo.

 

A necessidade não é de hoje, mas o último ano de pandemia e a indefinição dos tempos que estamos ainda a viver tornaram tudo mais urgente. O encerramento dos teatros e de outros espaços de apresentação mais convencionais, a estagnação das programações e a situação difícil, insustentável até, em que vivem muitos dos artistas que se viram impossibilitados de trabalhar exigem novos modelos de intervenção.

O projecto Self-Mistake juntou-se por isso à ORG.I.A e à Produções Independentes, duas organizações que promovem o trabalho independente e a partilha de meios de produção na área da dança e da performance, para lançar um novo programa de apoio à criação, o Self-Curating.
Como o próprio nome indica, esta linha de apoio destina-se aos artistas que, para além das actividades de investigação e de criação, querem ser também responsáveis pelas condições de produção e apresentação do seu próprio trabalho.
De acordo com o comunicado que a Self-Mistake fez chegar às redacções, esta nova linha de apoio tem por alvo a criação experimental e independente e vai privilegiar a apresentação ao vivo de obras “em contextos e espaços alternativos aos convencionais e institucionais”, “de forma autónoma, flexível e livre”.
A ideia, para além de garantir o apoio financeiro e a consultoria, quando necessária, no desenvolvimento do projecto a apresentar, é contribuir para a definição de um novo circuito de apresentação de artes performativas, pode ler-se no mesmo comunicado.
Como funciona o programa? Os artistas interessados deverão enviar as suas propostas até 31 de Julho, submetendo para esse efeito um documento breve (duas páginas, no máximo) em que falam de si e do seu projecto, avançando, ou não, uma sugestão de valor da bolsa a ser atribuída e dos locais de apresentação do trabalho que dela resultar. A esta fase segue-se a das entrevistas com os artistas pré-seleccionados.