Tratado da Invenção das Coisas
Daniel Moutinho
Tratado da Invenção das Coisas é a invenção de coisas na minha pele através de tatuagens. Quando dizemos coisas podemos estar a referir-nos a muita coisa. As coisas são de alguma forma inomináveis, indefinidas, sem ser por esse aglomerado genérico de serem coisas (objectos, contos, ideias, matérias, imagens, projectos adiados, pensamentos, etc.). O Tratado da Invenção das Coisas é essa acumulação de pequenas narrativas tatuadas no meu corpo à medida em que fui me inventando e compreendendo.
Interessava-me o acto de inventar, inventar o meu corpo percebendo nele o que é a História Tatuagem, a minha autobiografia e a natureza das coisas, pressupondo que o que existe tinha uma natureza anterior à nossa invenção delas (pessoal e global).
Estranha invenção, esta, feita de dor.
A invenção de mim próprio, feita com agulhas e tinta.
Não existiria este corpo se não fossem estas feridas que inventei. Este corpo tatuado com os meus afectos e afectações, reais e ficcionais.
Pensava, enquanto era tatuado, que esta inscrição no meu corpo era uma forma de compreensão de mim próprio e da minha vida, mas simultaneamente uma leitura do mundo.
Posso reclamar um significado simbólico pelas imagens na minha pele, mas não estou seguro que me caiba a mim decidir. Eu não diria que sou dono das minhas tatuagens; elas estão simultaneamente em mim e para além de mim, como imagens, com histórias e conotações que o meu corpo não pode inteiramente definir.
Tratado da Invenção das Coisas é uma performance que vem dessa experiência do corpo. Tratado da Invenção das Coisas é essa invenção de uma vida, enquanto construção de um cenário, uma enciclopédia viva do meu entendimento das coisas.
Daniel Moutinho
Criação, direcção, texto e interpretação: Daniel Moutinho
Apoio à dramaturgia: Lara Mesquita
Vídeo: Vera Bibi
Cenografia: Carla Martinez
Assistente de cenografia: Isabelle Ivone Denken
Ambiente sonoro: Nuno Veiga
Desenho de luz: Carlos Ramos Figurinos: Miu Lapin
Produção executiva: Cláudia Teixeira
Tatuagens por: Binho Onze, Bruna Prazeres, Mirna Garcia, Sofia Nabais, Molin
Residência de criação: Trust Collective; Companhia Casa Cheia Parceria: Karnart
Apoio: Direcção Geral das Artes | Ministério da Cultura, Fundação GDA, Self-Mistake
Uma produção: Parrotrecord - associação cultural
Agradecimentos: Fundação Calouste Gulbenkian, teatro meia volta e depois à esquerda quando eu disser